Nosso trekking até o Everest Base Camp
- viajando100pressa
- 26 de mai. de 2017
- 5 min de leitura
Para nós, um trekking é muito mais que uma trilha que leva a algum lugar. É sobre testar limites físicos e emocionais, sobre desapegar de coisas que outrora eram indispensáveis, é sobre se conhecer e se descobrir. Sem falar na energia gostosa que a natureza tem e nos transmite.
Mas o trekking para o Everest Base Camp nos ensinou mais que isso. Descobrimos uma realidade que pensávamos não existir mais. Com o perdão da palavra, a vida nas montanhas do Nepal é foda! Foram dias, horas e quilômetros de reflexão sobre a forma como vivemos e nos relacionamos no dia-a-dia.
Preparamos uma série de posts sobre o trekking para o EBC. São dicas, relatos, roteiro. Esperamos inspirar, ajudar e poder transmitir um pouquinho do que foi essa experiência incrível!
Mas antes de contar cada detalhe, vamos aguçar a curiosidade de vocês contando um pouquinho sobre o trekking para o EBC.
Nós optamos por fazer esse trekking sozinhos, sem guia e carregador de bagagem, os chamados porters. Achamos que seria melhor fazer por conta própria, no nosso tempo, sem falar que é uma aventura mais bacana.
Planejar tudo sozinhos foi mais difícil do que imaginávamos. Isso porque as informações são bem limitadas e as pessoas gostam de fazer parecer que é muito mais difícil do que realmente é. Vimos pessoas com sobrepeso, idosos e até crianças pequenas chegando ao EBC! A trilha é super movimentada, as vezes chega a parecer uma trilha de formigas.
A verdade é que não tem segredo! É basicamente um sobe e desce de montanha danado. É comum andar um dia inteiro para progredir 20km. Às vezes de uma vila é possível avistar a outra. Parece bem pertinho, mas na verdade é preciso descer uma montanha, atravessar um rio e subir outra montanha pra chegar lá. Hehe O que mais achamos engraçado é que as distâncias não são mais medidas em quilômetros, mas em horas e dias de caminhada.
Para os alimentos e suprimentos chegarem às vilas é necessário que alguém os carregue nas costas, animal ou humano. Até 3.000 metros de altitude são burros que fazem a maior parte do trabalho pesado. Eles vão de uma vila para a outra levando alimentos, gás, leite, entre outros. A partir dessa altitude são os búfalos e os yaks que fazem esse transporte.


Há quem discorde, mas eu acho os yaks lindos demais! São grandões como os búfalos, com chifres enormes e muito pêlo para proteger do frio! E os filhotinhos!? Dá vontade de levar um para casa.


Gostei tanto que tentei até tirar uma selfie com um deles.
Mas grande parte do trabalho pesado é feito pelos sherpas! É chocante a quantidade de peso que eles carregam por horas. Reparem na posição que eles ficam. É mala de turista, comida, utensílios para casa, material para construção.... Acreditem se quiser, eles sobem e descem as montanhas mais rápido do que nós trekkers.

Eles usam esse bastão de madeira para se apoiar e também apoiar a carga nas paradas para descanso.


Na foto dá para ver a diferença do tamanho das nossas mochilas (à esquerda) e da mochila que o porter carregava sozinho.
Vimos uma criança de uns 13 anos carregando uma cesta enorme cheia de pedaços de carne. A carne ainda estava fresca, toda ensanguentada, com pedaços de couro. O Rafa parou para ajudá-lo a colocar nas costas, e viu que a cesta pesava uns 30kg.
E essa é uma realidade que o povo daqui enfrenta todos os dias.
A dieta dos nepalis é basicamente vegetariana, principalmente de quem mora nas montanhas. Todas as casas possuem um quintal na frente, onde eles plantam os alimentos que vão para a mesa todos os dias. Todos trabalham nas lavouras, das crianças aos idosos.

A comida típica aqui no Nepal é o Dhal Bat. Dhal é uma sopa de lentilhas e Bat é arroz. Eles vêm acompanhados de legumes refogados, como cenoura, repolho ou couve. Quando é muito caprichado vem com batata também. Esse é o alimento mais consumido pelos nativos, no almoço e jantar.
Tecnologia ainda não chegou aos povoados, então é difícil conseguir sinal de celular. Energia elétrica se resume a algumas lâmpadas e chuveiro é um luxo. A maioria das pessoas toma banho de balde nos quintais das casas, em torneiras que parecem bicas.
Nossos três primeiros dias de caminhada (de Salleeri até Lukla) foram de pura imersão nessa nova realidade. Durante esse trecho refletimos muito sobre a forma como vivemos no nosso dia-a-dia e sobre como nos tornamos dependentes de outras pessoas fazerem tudo para nós. Vamos escrever um post só com essas reflexões!
Esses três primeiros dias de caminhada também foram muito importantes para que chegássemos à altitude mais fortes e adaptados. Foram os dias em que percorremos as maiores distâncias, chegando a caminhar 10 horas por dia. Iniciamos o percurso a 2.200m de altitude, subimos para 3.000m e depois descemos para 1.500m. Depois de atravessar uma ponte enorme de cabos de aço voltamos a subir para 2.700m.
O primeiro dia de caminhada é bem tranquilo. No segundo a mochila começa a se tornar um incômodo, as panturilhas e coxas ardem e os braços já sentem o esforço feito com os estiques. No terceiro dia você ainda sente um pouco de dor e cansaço muscular, mas no quarto dia você já está super acostumado. Nos sentimos bem preparados e resistentes para enfrentar os dias seguintes.
Durante esses três primeiros dias de trilha cruzamos apenas com outros dois grupos de trekkers. Uma família canadense e três jovens, dois israelitas e um espanhol. Acabamos os encontrando ao longo de praticamente todo o percurso. Boas amizades que fizemos.

A partir do quarto dia a trilha já começa a ficar bem cheia. É por que a maioria das pessoas opta por ir de avião até Lukla. No próximo post vamos explicar bem direitinho a diferença entre ir de avião e por meios terrestres (como nós fomos).
Como a trilha fica bem lotada a partir desse ponto, é praticamente impossível se perder. Além de ter muita gente pelo caminho, há placas e todo o trajeto é bem sinalizado.
Existem vilarejos a cada duas horas de caminhada, pelo menos. A maior parte das pessoas fala um inglês básico, o suficiente para se comunicar. Qualquer dúvida, basta perguntar a qualquer um no caminho.
Ainda assim é importante ter em mãos um bom mapa. Compramos o nosso no bairro de Thamel, em Katmandu. Custou uns R$20 e foi útil demais! Além de indicar todos os vilarejos, desde os menores, ele mostra as altitudes e distância em horas.
Mesmo que você contrate um guia é bacana ter seu próprio mapa para entender direitinho a rota.

Uma outra opção é o Maps.me, o aplicativo de celular. Você consegue baixar o mapa da região nele, o único problema é garantir que o celular terá sempre bateria. Durante quase todo o percurso do trekking é cobrado para carregar os eletrônicos e os preços podem chegar a R$10 por carga.
O Rafa gosta de usar o Garmim, então baixou a rota nele pelo site wikiloc (https://pt.wikiloc.com/) e levou só pra termos uma segurança extra. Nesse site dá para procurar várias trilhas no mundo inteiro e colocar no seu gps ou celular. E o melhor é que é de graça! Só é importante dar uma olhada no mapa antes de baixar, para garantir que a trilha condiz com a que você está planejando.
Contamos até demais, né? Fica de olho no próximo post pois daremos várias dicas para quem planeja fazer esse trekking.
:)
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